domingo, 18 de dezembro de 2016

Torres sineiras

    A música compõe o ambiente das cidades. A música é uma arte da noite, lembra o filósofo.


  "A música e a noite. - O ouvido, o órgão do medo, pôde desenvolver-se tanto como se desenvolveu apenas na noite e na penumbra de cavernas e bosques sombrios, consoante o modo de viver da época do medo, isto é, a mais longa época da humanidade: no claro, o ouvido não é tão necessário. Daí o caráter da música, uma arte da noite e da penumbra." Livro IV - § 254

   Um dado interessante da arquitetura religiosa,  é sua relação dialética com o organismo social, como nos mostra Sylvio de Vasconcellos.

  "Essa correspondência entre a arquitetura religiosa e o organismo social, nas Minas, nos parece, além de curiosa, muito importante não só para a compreensão daquela arquitetura de maior vulto que então se concretizou como também, inversamente, para a reconstituição do desenvolvimento social nela tão bem traduzido." 
    
   Uma das fases do desenvolvimento do barroco evidencia esse aspecto dialético. Das capelas primitivas às igrejas uma nova estratificação social se instaura. Ordens religiosas como as ordens terceira do Carmo, São Francisco e a do Rosário dos Pretos constroem suas obras mais importantes.
    
    Nessas construções as torres se sobressaem

   A música entoada nas torres das igrejas barrocas anuncia a vida e a morte, a celebração e o rito, quem é, e o que é, sua ordem e o gênero. Anuncia o tempo. Ouvidos preparados não olvidam os sinais das torres propagadoras de música.

    Eis algumas torres sineiras:


Bom Jesus de Matosinhos/Congonhas
   
Nossa Senhora do Rosário/Santa Luzia


Santa Luzia/Santa Luzia
    Diferente das capelas as igrejas tem torres sineiras como parte da arquitetura.

São José/Sabará


Nossa Senhora do Carmo/Mariana


São Francisco de Assis/ Mariana


Nossa Senhora da Conceição/Cachoeira do Brumado/Mariana


São Caetano/Mariana

Nossa Senhor do Carmo/Sabará


São José/Congonhas

Nossa Senhora do Rosário/Alvinópolis

São Pedro/Mariana

Nossa Senhora do Carmo/Ouro Preto

Nossa Senhora do Pilar/Ouro Preto


Nossa Senhora dos Prazeres/Lavras Novas

Nossa Senhora da Assunção/Mariana
  A matriz é o referencial, seu toque é o primeiro, as outras apenas ecoam seus sinais.



Santo Antônio/Itaverava

São Sebastião/Monsenhor Isidro/Itaverava
    
    Para uma consulta mais aprofundada seguem as referências.



Referências

NIETZSCHE, Friedrich. Aurora: reflexões sobre os preconceitos morais. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

VASCONCELOS, Sylvio de. Arquitetura colonial mineira in: Barroco: teoria e análise. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, 1997.  

____________ Algumas perspectivas historiográficas sobre o Aleijadinho como arquiteto. in O Aleijadinho arquiteto e outros ensaios sobre o tema. Belo Horizonte: Escola de Arquitetura da UFMG, 2008. 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Drummond e os poemas barrocos

    Nas páginas finais onde investigou as "Ideias filosóficas no barroco mineiro" Joel Neves deixa um registro valioso sobre o adro da Igreja de Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas. 
   As análises estéticas sobre os esquemas de organização do jogo das estátuas dos Profetas são imprescindíveis para aquele que se interessar em aprofundar as leituras sobre essa arte.
    Diz: 
               "O movimento gestual do corpo de cada profeta evoca-nos a problemática do ser auto-centrado e do ser ex-cêntrico.
             Cada estátua joga consigo mesma. Seu ser "parece" se alojar neste afastar-se de seu centro, e, no entanto, se auto centra. As linhas verticalizantes caem sempre para as oblíquas, à semelhança de uma linha-eixo de fuga para uma longitude inconcreta, não visível. 
           Este jogo de centramento e de fuga ao mesmo tempo evoca uma quase ex-sistência. O ser da imagem existe e não existe na estrutura de pedra. Parece que a estátua terminou um gesto, um movimento, ou tende a iniciar um passo, e foi surpreendida neste preciso instante do término ou do início do movimento."

  Essa descrição do gestual representa e apresenta de modo singular o barroco, uma arte em movimento. 
  E se em sua investigação ele buscava os argumentos para tomar o barroco como campo gnosiológico, e nesse sentido, o jogo da linguagem artística como estrutura de antecipação reveladora do ser, Neves parece ter alcançado seu intento.

    Mas o poeta tem outro olhar. Nem melhor, nem inferior ou discordante, apenas outro olhar. 
    E Drummond nos convida  a ascese.


Voo sobre as igrejas

Vamos até à Matriz de Antônio Dias
Onde repousa, pó sem esperança, pó sem lembrança, o Aleijadinho.

Vamos subindo em procissão a lenta ladeira.
Padres e anjos, santos e bispos nos acompanham
e tornam mais rica, tornam mais grave a romaria de assombração.
Mas já não há fantasmas no dia claro,
tudo é tão simples,
tudo tão nu,
as cores e cheiros do presente são tão fortes e tão urgentes
que nem se percebem catingas e rouges, boduns e ouros do século 18.

Vamos subindo, vamos deixando a terra lá embaixo.
Nesta subida só serafins, só querubins fogem conosco,
de róseas faces, de nádegas róseas e rechonchudas,
empunham coroas, entoam cantos, riscam ornatos no azul autêntico.

Este mulato de gênio
lavou na pedra-sabão
todos os nossos pecados,
as nossas luxúrias todas,
e esse tropel de desejos,
essa ânsia de ir para o céu
e de pecar mais na terra;
este mulato de gênio
subiu nas asas da fama,
teve dinheiro, mulher,
escravo, comida farta,
teve também escorbuto
e morreu sem consolação.

Vamos subindo nessa viagem, vamos deixando
na torre mais alta o sino que tange, o som que se perde,
devotas de luto que batem joelhos, o sacristão que limpa os altares,
os mortos que pensam, sós, em silêncio, nas catacumbas e sacristias,
São Jorge com seu ginete,
o deus coberto de chagas, a virgem cortada de espadas,
e os passos da paixão, que jazem inertes na solidão.

Era uma vez um Aleijadinho,
não tinha dedo, não tinha mão,
raiva e cinzel, lá isso tinha,
era uma vez um Aleijadinho,
era uma vez muitas igrejas
com muitos paraísos e muitos infernos,
era uma vez São João, Ouro Preto,
Mariana, Sabará, Congonhas, 
era uma vez muitas cidades
               e o Aleijadinho era uma vez. 


"Vamos subindo nessa viagem, vamos deixando na torre mais alta o sino que tange..."





Referências

ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova reunião: 23 livros de poesia- volume 6ª edição- Rio  de Janeiro: Best bolso, 2013.

NEVES, Joel, Ideias filosóficas no barroco mineiro. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 1986. 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Drummond e os poemas barrocos

      
   
 No prefácio da obra "Traços biográficos relativos ao finado Antônio Francisco Lisboa, distinto escultor mineiro, mais conhecido pelo apelido de Aleijadinho" de Rodrigo Bretas, Silviano Santiago nos brinda com uma história curiosa sobre o movimento modernista e o barroco.
          A troca de cartas entre Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade cria uma articulação interessante nesse momento. Macunaíma estava sendo 'gestado'. Ao comunicar a Drummond sobre a obra, Mário de Andrade mostra interesse por conhecer Aleijadinho.
         O que se segue é uma descoberta do barroco mineiro, com inúmeras viagens para Ouro Preto e Mariana. E encontros com o poeta simbolista Alphonsus de Guimarães em Mariana. 
         O que queremos ressaltar aqui, no entanto, são os poemas de Drummond dedicados a algumas cidades barrocas como Sabará e Ouro Preto. 
          Nesse destacamos o seu diálogo com os profetas.


"Assim confabulam os Profetas, em reunião fantástica, batida pelos ares de Minas"


O colóquio das estátuas

    Sobre o vale profundo, onde flui o rio Maranhão, sobre os campos de Congonhas, sobre a fita da estrada de ferro, na paz das minas exauridas, conversam entre si os Profetas.
    Aí onde os pôs a mão genial de Antônio Francisco, em perfeita comunhão com o adro, o santuário, a paisagem toda - magníficos, terríveis, graves, eternos - eles falam de coisas do mundo que, na linguagem das Esculturas, se vão transformando em símbolos.
    As barbas barrocas de uns, panejadas pela vento que corre os gerais, lembram serpentes vingativas, a se enovelarem; no rosto glabro de outros, a sabedoria ganha nova majestade; e os doze, em assembleia meditativa, robustos não obstante a fragilidade do saponito em que se moldaram e que os devotos vão cobiçosamente lanhando- os doze consideram o estado dos negócios do homem, a turbação crescente das almas, e reprovam, e advertem.
   -Uma brasa foi colada a meus lábios por um serafim – diz Isaías, ao pé da grade. E Jeremias, cavado de angústias, desola-se:
     -Pois eu choro a derrota da Judéia, e a ruína de Jerusalém…
    Esse choro, através dos séculos, vem escorrer nos dias de hoje, e não cessa nem mesmo quando Israel volta a reunir seus membros esparsos, pois só outra Jerusalém, a celeste, não se corrompe nem se arruína.
    Em sua intemporalidade, são sempre atuais os profetas. Em qualquer tempo, em qualquer situação da história, há que recolher-lhes a lição.
    -Eu explico à Judéia o mal que trarão à terra a lagarta, o gafanhoto, o bruco e a alforra – é Joel quem fala. Ao passo que Habacuc, braço esquerdo levantado, investe contra os tiranos e os dissolutos:
    -A ti Babilônio, te acuso, e a ti, ó tirano caldeu…

    Em visão apocalíptica, Ezequiel descreve “os quatro animais no meio das chamas e as horríveis rodas, e o trono etéreo”. Ozéias dá uma lição de doçura, mandando que se receba a mulher adúltera, e dela se hajam novos filhos. Mas Nahum, o pessimista, não crê na reconversão de valores caducos:
    -Toda a Assíria deve ser destruída- digo eu.

    Contudo, há esperança, mesmo para os que forem atirados à jaula dos leões- pondera Daniel (e em numerosas partes do mundo eles continuam a ser atirados; apenas os leões se disfarçam): esperança mesmo para os que, por três noites, habitaram o ventre de uma baleia- é a experiência de Jonas, a caminho de Nínive.
    Assim confabulam os profetas, numa reunião fantástica, batida pelos ares de Minas.

    Onde mais poderíamos conceber reunião igual, senão em terra mineira, que é o paradoxo mesmo, tão mística que transforma em alfaias e púlpitos e genuflexórios a febre grosseira do diamante, do ouro e das pedras de cor? No seio de uma gente que está ilhada entre cones de hematita, e contudo mantém com o universo uma larga e filosófica intercomunicação, preocupando-se, como nenhuma outra, com as dores do mundo, no desejo de interpretá-las e leni-las? Povo pastoril e sábio, amante de virtudes simples, de misericórdia, de liberdade – povo sempre contra os tiranos, e levando o sentimento do bom e do justo a uma espécie de loucura organizada, explosiva e contagiosa, como revelam suas revoluções liberais?

    São mineiros esses Profetas. Mineiros na patética e concentrada postura que os armou o mineiro Aleijadinho: na visão ampla da terra, seus males, guerras, crimes, tristezas e anelos; no julgar friamente e no curar com bálsamos; no pessimismo; na iluminação íntima; mineiros, sim, de cento e sessenta anos atrás e de agora, taciturnos, crepusculares, messiânicos e melancólicos.



Santuário visto da Romaria






Referência


SUPLEMENTO. Edição Especial. Belo Horizonte, Novembro /2014.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Capelas barrocas

As capelas setecentistas e a ocupação das Minas Gerais

         Os primeiros núcleos urbanos de Minas Gerais, em especial aqueles voltados para a exploração do ouro nos séculos XVII e XVIII, foram ricos também em manifestações artísticas. Junto a essas primeiras urbes surgem movimentos religiosos que organizados em grupos, formam irmandades, confrarias e ordens terceiras ligados aos vários grupamentos sociais. Huizinga nos mostra um cenário comum a esses movimentos urbanos, 

“(...) a produção da arte plástica desenrola-se completamente fora da esfera lúdica, e sua exibição é necessariamente parte de um ritual, de uma festividade ou de um acontecimento social. A inauguração de estátuas, a colocação de pedras fundamentais, as exposições etc., não são por si mesmas parte integrante do processo criador, e em sua maioria são fenômenos recentes.(...) Tanto edifícios como estátuas, roupas e armas ricamente ornamentadas podiam-se relacionar com a vida religiosa. Eram objetos dotados de poder mágico, carregados de valor simbólico, representando muitas vezes uma entidade mística.”1



As capelas exercem um importante papel nessa construção. Durante um certo período ocorre um movimento que Sylvio de Vasconcellos nos descreve esquematicamente assim: formação das povoações sem classes sociais definidas, com capelas precárias e construções simples; povoações estabilizadas, com formação de classes sociais, agrupamento de classes sociais e predomínio de uma delas, construção das Matrizes, multiplicidade de altares; pleno desenvolvimento das povoações, diferenças e rivalidade das classes sociais, construção de novas capelas, decadência das matrizes; decadência econômica e dissolução das diferenças sociais estagnação das construções novo apogeu das matrizes.  Dentro desse esquema essa expressão artística chamado barroco mineiro compreende o período que vai de 1710 a 1760. 
Espécie de massa, de sucos, e sonhos, e crenças.  

“Essa correspondência entre a arquitetura religiosa e o organismo social, nas Minas, nos parece, além de curiosa, muito importante não só para a compreensão daquela arquitetura de maior vulto que então se concretizou como também, inversamente, para a reconstituição do desenvolvimento social nela tão bem traduzido.”2

É num contexto semelhante a esse que o barroco mineiro se instaura, o que nos abre a possibilidade de busca e reflexão sobre os liames entre a arte e a educação tomando estes como espaços privilegiados para pensar a arte como linguagem universal e pedagógica.  
Podemos encontrar um modelo arquitetônico cujas características demarcam algumas regiões do território mineiro, e os diferencia de outras. Apresentaremos aqui algumas das capelas compreendidas na região do Vale do Piranga e em alguns distritos de Mariana, cujos modelos arquitetônicos são próximos.


Capela de São Sebastião em Bandeirantes/Mariana

Capela de Santa Tereza em Bandeirantes/Mariana

Capela de Nossa Senhora do Rosário em Pinheiros Altos/Piranga
           Algumas capelas foram restauradas recentemente.      


Capela de Nossa Senhora do Rosário em Piranga



Capela de Nossa Senhora da Boa Morte em Piranga



Capela de Bom Jesus de Matosinhos em Santo Antônio do Pirapetinga/Bacalhau/Piranga

A ausência das torres sineiras é uma característica dessas capelas.



Capela de São Jose/Cordisburgo



Capela de Sant'Ana em Sant'Ana dos Montes
       


Capela de Santo Antônio em Monsenhor Horta/Mariana


Capela de São José/Sem Peixe



Santa Ifigênia/Catas Altas da Noruega

    Algumas são representativas das capelas originárias.


Capela de Nossa Senhora das Graças em Catas Altas da Noruega
    Outras sofreram transformações ao longo do tempo, mas é possível perceber alguns traços remanescentes.


Capela de São João em Guaraciaba


    As capelas cumprem um papel fundamental no organismo social das vilas e núcleos urbanos nas Minas Gerais. 

    E são algumas das referências para nosso estudo e elaboração dos nossos percursos.



Referências
1 - HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: o jogo o como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2008.  
MIRANDA, Selma Melo. Arquitetura religiosa no Vale do Piranga. in: teoria e análise. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, 1997.

2 - VASCONCELLOS, Sylvio de. Arquitetura colonial mineira in: Barroco: teoria e análise. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, 1997.  

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Barroco arte sensual


O barroco arte sensual.

A etimologia do termo barroco nos remete a alguns pontos significativos de sua manifestação que podem nos dar pistas para compreendermos um pouco mais esse movimento artístico. 

Temos que percorrer suas volutas.

No ensaio "As dobras da melancolia - o imaginário barroco português" Paulo Pereira ao investigar o termo nos aponta uma de suas origens,

“Diz-se que barroco é uma palavra de origem portuguesa. Os ourives, já em tempo de D. Manuel, chamavam às pérolas grandes e deformadas, barrocas. Barrocal ou barroca é também o nome que entre nós se dá aos agregados de pedras informes e arredondadas – poderosos afloramentos de rochas metamórficas – muito comuns ao Norte de Portugal, na Estremadura e no Alentejo”.  

Igreja de Nossa Senhora do Carmo/Sabará

Sua demarcação histórica,

"Mais tarde, e certamente não por acaso, barroco adviria designação de uma época da história intelectual do Ocidente em que os jogos da instabilidade, do pormenor, da minúcia e da ostentação das formas se aliviavam aos jogos de palavras, na poesia e na prosa e, até, na 'arte da memória', conforme ela foi então entendida e praticada..."

Ou, como aponta Abbagnano, o conceito é derivado de baroco, a palavra mnemônica usada pelos escolásticos para indicar o quarto dos quatro modos do silogismo de segunda figura. Mais precisamente o que consiste numa premissa universal afirmativa, numa premissa particular negativa e numa conclusão particular negativa, como no exemplo: 

‘Todo homem é animal; algumas pedras não são animais; logo, algumas pedras não são homens’

Vale notar o aspecto de “obra de ourivesaria mental” com esse silogismo acima - e como ele se manifesta nos detalhes artísticos



Detalhe frontispício da igreja de Nossa Senhora do Carmo/Sabará


O termo foi ainda relacionado aos objetos estranhos avolumados ou exagerados e mesmo extravagante, excessivo ou irregular, conferindo assim uma carga negativa ao estilo.

“o barroco é um estilo artístico que se caracteriza pelo arrebatamento da forma. (...) Mas é uma arte muito direta pouco intelectualizada, e certamente dirigida aos sentidos: sensual mesmo.” E permeado pelo hedonismo.

A palavra barroco surge com um sentido depreciativo. Irregular. Tortuoso. Defeituoso. Expressão de uma crise humana, da crise da cultura renascentista.

"A arte barroca é, por isso mesmo, simultaneamente trágica e festiva. Mas é artifício, engano, e desengano, como a vida: e Calderón dizia la vida es sueño."

Mas as leituras posteriores terminam por reconhecer a singularidade de tal estilo artístico e o barroco ocupa seu espaço de destaque nas artes.

Altar Mor igreja de Santa Luzia/Santa Luzia 

Ao abordar os aspectos filosóficos no barroco mineiro Joel Neves nota,

"O barroco revela a nova possibilidade de experiência como montagem e uma revalorização  da percepção, agora traduzida como sistema de experiência, porquanto toda percepção será compreendida como ligação rigorosa entre corpo e fenômeno."

Agora o espectador integra o sistema de experiência, a percepção é vivida. A atitude passiva é abandonada. Com ela o homem é levado a assumir uma nova relação com o mundo. No jogo dinâmico de luz e formas a que é levado em presença do barroco, 

"o conhecimento do mundo, é a efetivação de uma tomada global, na qual se inscrevem mundo e percepção, e não mais um 'pensamento operatório' a partir de modelos absolutos."

O contato com uma obra barroca pode nos levar a uma significativa fruição estética.





Referências

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

NEVES, Joel. Ideias filosóficas no barroco mineiro. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 1986. 
PEREIRA, Paulo. As Dobras da Melancolia – O Imaginário Barroco Português. In: Barroco Teoria e Análise/Affonso Ávila organização; São Paulo Perspectiva; Belo Horizonte Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, 1997.  

sábado, 19 de novembro de 2016

18 de Novembro - Dia do Barroco Mineiro

Profeta Daniel - Congonhas, MG. 2016.

O dia do Barroco Mineiro foi instituído e regulamentado pela  lei nº 20.470/2012  com o objetivo de apoiar, estimular, desenvolver e consolidar projetos culturais voltados para o Barroco Mineiro.

E em comemoração a este dia dedicamos nosso primeiro post ao maior expoente do Barroco Mineiro: Antônio Francisco Lisboa – o Aleijadinho.

Como exposto na primeira biografia sobre o Aleijadinho escrita por Rodrigo José Ferreira Bretas em 1858:
 “Nas esculturas do Aleijadinho observava-se sempre mais ou menos bem-sucedida a intenção de um verdadeiro artista, cuja tendência é para a expressão de um sentimento ou de uma ideia, alvo comum de todas as artes. Faltou-lhe como já se disse, o preceito da arte, mas sobrou-lhe a inspiração do gênio e do espírito religioso.”

Antônio Francisco Lisboa, filho do construtor português Manoel Francisco Lisboa e de uma escrava chamada Isabel, nasceu em 1738 e foi liberto pelo pai no dia de seu batizado.

Aleijadinho era entalhador, escultor e arquiteto, e o mais famoso dentre os diversos artistas barrocos, devido à sua capacidade artística e genialidades expressas em madeira e pedra sabão.

Embora seja o artista mais reconhecido, traz em sua história muitas controvérsias, como a doença que o acometeu. Criou-se um mito em torno dessas historias, mas o que fica claro é grandiosidade de sua obra.

Aleijadinho faleceu em 1814, e foi sepultado no interior da Matriz de Antônio Dias, na cidade de Ouro Preto.



Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, Minas Gerais.
2016. Acervo dos colaboradores.



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