terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Capelas barrocas

As capelas setecentistas e a ocupação das Minas Gerais

         Os primeiros núcleos urbanos de Minas Gerais, em especial aqueles voltados para a exploração do ouro nos séculos XVII e XVIII, foram ricos também em manifestações artísticas. Junto a essas primeiras urbes surgem movimentos religiosos que organizados em grupos, formam irmandades, confrarias e ordens terceiras ligados aos vários grupamentos sociais. Huizinga nos mostra um cenário comum a esses movimentos urbanos, 

“(...) a produção da arte plástica desenrola-se completamente fora da esfera lúdica, e sua exibição é necessariamente parte de um ritual, de uma festividade ou de um acontecimento social. A inauguração de estátuas, a colocação de pedras fundamentais, as exposições etc., não são por si mesmas parte integrante do processo criador, e em sua maioria são fenômenos recentes.(...) Tanto edifícios como estátuas, roupas e armas ricamente ornamentadas podiam-se relacionar com a vida religiosa. Eram objetos dotados de poder mágico, carregados de valor simbólico, representando muitas vezes uma entidade mística.”1



As capelas exercem um importante papel nessa construção. Durante um certo período ocorre um movimento que Sylvio de Vasconcellos nos descreve esquematicamente assim: formação das povoações sem classes sociais definidas, com capelas precárias e construções simples; povoações estabilizadas, com formação de classes sociais, agrupamento de classes sociais e predomínio de uma delas, construção das Matrizes, multiplicidade de altares; pleno desenvolvimento das povoações, diferenças e rivalidade das classes sociais, construção de novas capelas, decadência das matrizes; decadência econômica e dissolução das diferenças sociais estagnação das construções novo apogeu das matrizes.  Dentro desse esquema essa expressão artística chamado barroco mineiro compreende o período que vai de 1710 a 1760. 
Espécie de massa, de sucos, e sonhos, e crenças.  

“Essa correspondência entre a arquitetura religiosa e o organismo social, nas Minas, nos parece, além de curiosa, muito importante não só para a compreensão daquela arquitetura de maior vulto que então se concretizou como também, inversamente, para a reconstituição do desenvolvimento social nela tão bem traduzido.”2

É num contexto semelhante a esse que o barroco mineiro se instaura, o que nos abre a possibilidade de busca e reflexão sobre os liames entre a arte e a educação tomando estes como espaços privilegiados para pensar a arte como linguagem universal e pedagógica.  
Podemos encontrar um modelo arquitetônico cujas características demarcam algumas regiões do território mineiro, e os diferencia de outras. Apresentaremos aqui algumas das capelas compreendidas na região do Vale do Piranga e em alguns distritos de Mariana, cujos modelos arquitetônicos são próximos.


Capela de São Sebastião em Bandeirantes/Mariana

Capela de Santa Tereza em Bandeirantes/Mariana

Capela de Nossa Senhora do Rosário em Pinheiros Altos/Piranga
           Algumas capelas foram restauradas recentemente.      


Capela de Nossa Senhora do Rosário em Piranga



Capela de Nossa Senhora da Boa Morte em Piranga



Capela de Bom Jesus de Matosinhos em Santo Antônio do Pirapetinga/Bacalhau/Piranga

A ausência das torres sineiras é uma característica dessas capelas.



Capela de São Jose/Cordisburgo



Capela de Sant'Ana em Sant'Ana dos Montes
       


Capela de Santo Antônio em Monsenhor Horta/Mariana


Capela de São José/Sem Peixe



Santa Ifigênia/Catas Altas da Noruega

    Algumas são representativas das capelas originárias.


Capela de Nossa Senhora das Graças em Catas Altas da Noruega
    Outras sofreram transformações ao longo do tempo, mas é possível perceber alguns traços remanescentes.


Capela de São João em Guaraciaba


    As capelas cumprem um papel fundamental no organismo social das vilas e núcleos urbanos nas Minas Gerais. 

    E são algumas das referências para nosso estudo e elaboração dos nossos percursos.



Referências
1 - HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: o jogo o como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2008.  
MIRANDA, Selma Melo. Arquitetura religiosa no Vale do Piranga. in: teoria e análise. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, 1997.

2 - VASCONCELLOS, Sylvio de. Arquitetura colonial mineira in: Barroco: teoria e análise. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, 1997.  

Um comentário:

  1. Parabéns Pedalêro pelas informações que nós nas pedaladas da vida não nos damos conta e nos lembrar de quão rica é nossa região

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